Foto: Arquivo pessoal/Casados há 26 anos com a professora Diva Guareschi, para Romero família é a principal estrutura
Diário - O sentimento de valorização à família é reflexo de sua criação?
Isaías Romero - Sou apegado demais à família que construí. Sou casado com uma pessoa incrível e tenho filhos que me dão muita alegria. Tive sorte no casamento. Com uma força cidadã exemplar, Diva é uma grande parceira. Meus filhos também são meus parceiros de vida. Desde pequenos, acompanham a minha rotina e toda a minha trajetória. Certamente, minha família é reflexo da criação que eu e meus irmãos recebemos dos nossos pais.
Diário - Na infância, o senhor acompanhava o trabalho do seu pai na ferrovia? Como era isso?
Romero - Todos os dias, levava a marmita para o pai. Então, aproveitava para brincar nos trens. Nasci e cresci no Bairro Salgado Filho, onde vivi momentos únicos. Além de brincar na Gare, viaja de trem por todo o Estado. Apaixonado por trens, até hoje tenho coleção de ferroramas. Para retribuir o amor e cuidado que recebi, faço questão de estar perto dos meus pais e de atendê-los em tudo o que precisam. Meu pai está com 88 anos. A mãe, com 84.
Geração Z: a juventude conectada
Diário - Qual foi o momento mais difícil que o senhor viveu em família?
Romero - Com certeza, a perda de uma filha. Ela tinha apenas sete anos de idade. Ao atravessar a rua, Camila foi atropelada por uma moto. O acidente foi em frente à nossa casa. Jamais esqueceremos aquele dia. Gabriela estava junto. Pai, mãe e irmãos não esquecem algo assim, mas com unidade e amor, temos superado a dor.
Diário - Além da família e dos trens, o senhor tem outra paixão?
Romero - Claro. Sou apaixonado pela comunicação. Comecei em 1977, na Rádio Imembuí, e não parei mais. Desde pequeno, já gostava de rádio. Muitas vezes, brincava de narrar jogos. Fiquei na Imembuí até 1980, quando fui para Brasília, onde passei dois anos. Convidado por Itaúba Siqueira, narrei uma partida de futebol entre Grêmio e Flamengo pela rádio Santamariense. Logo, fui contratado pelo falecido César Ugaldi e permaneci na Santamariense por um bom tempo. Eu tinha uns 26 anos.
Diário - Qual é a sua marca no rádio?
Romero - Sou repórter e comentarista. Para ser mais específico, repórter policial. No início da carreira, tive oportunidade de trabalhar na Rádio Gaúcha e na Farroupilha, mas achei melhor ficar por aqui, onde estava consolidando minha carreira. Por duas vezes, tive a honra de ser reconhecido como o repórter mais ouvido do interior do Estado, o que me trouxe muita alegria e aumentou a minha responsabilidade com meus ouvintes.
Diário - Nesta trajetória, em que outras rádios atuou?
Romero - Depois da Santamariense, trabalhei por 15 anos na Rádio Guaratan, até que o Cláudio Zappe me convidou para trabalhar na Imembuí, onde espero encerrar a carreira, trabalhando com ele e com o Alcides (Zappe). Em 1983, quando iniciei O Repórter, passei por vários desafios. Entre eles, manter um programa depois da apresentação da Voz do Brasil, já que o meu ia ao ar das 22h à meia-noite. À época, as rádios fechavam cedo, em torno das 19h. Persisti, conquistei o meu espaço e várias demonstrações de reconhecimento.
Diário - Teria como citar alguns desses reconhecimentos?
Romero - Meu maior troféu é a audiência da minha cidade, que continua expressiva. Depois disso, ganhei o reconhecimento de hospitais, quartéis e da comunidade em geral. Orgulha-me a comenda que recebi da Ordem do Mérito Judiciário Militar, indicada pelo juiz Celso Celidonio. Conservo ainda a alegria de ser amigo de várias unidades do Exército.
Quando o sol bater na janela do teu quarto, lembra e vê
Diário - Antes de se consagrar como radialista, o senhor foi colunista no jornal impresso...
Romero - Como colunista esportivo e policial, escrevi para os jornais Expresso e A Razão. Porém, gosto mais de comentar do que de escrever. Até porque no rádio, a relação com ouvinte é bastante direta. Trato todos como se fossem da minha família e me esforço para falar o que a comunidade precisa ouvir. Não sou uma pessoa de ficar em cima do muro, mesmo que isso me custe caro. Insisto em ser direto e transparente, mesmo que isso me custe caro.
Diário - Foi a sua aproximação com a comunidade, por meio da rádio, que o levou ao cargo de vereador?
Romero - Eu estava no auge da carreira de radialista e, quando vi, estava na política. Na verdade, nunca fui político, só queria lutar pelos direitos da comunidade. Fiquei na Câmara de Vereadores por quatro mandatos, sendo que o último foi na gestão anterior. Acredito que a principal característica das minhas gestões foi a valorização dos funcionários.
Diário - O que fica deste período?
Romero - Tudo é momentâneo. Não somos eternos em nada. Ao longo do tempo, perdemos forças e, enquanto isso, fases e oportunidades passam por nós. O interessante da vida é percebermos os momentos e sairmos lentamente das etapas. Assim, resumo minha trajetória política. Eu saí, mas fica o que plantei. Espero ter deixado algo bom. Ações que tenham como reflexo o benefício do povo.
Diário - Foi a sua maneira de trabalhar pela cidade?
Romero - Tanto na política quanto na rádio, briguei por Santa Maria. Temos diante de nós uma cidade de portas abertas, que recebe todo mundo. Isso é muito bom, embora, algumas vezes, sejamos imprudentes. Apesar dos casos de violência, considero Santa Maria um lugar calmo e seguro. No aspecto negativo, infelizmente, nosso sistema de saúde está um caos. Gostaria que as pessoas que vêm para cá, adotassem Santa Maria. Temos muitas coisas boas.
Diário - Família e trabalho são tudo para o senhor. Amigos e fé também são importantes?
Romero - Tenho muitos amigos. Seria injusto citar algum. São pessoas especiais, presente da rádio e da vida. Ao longo desta trajetória, tive muitos anjos, pessoas que me ajudaram. Neste ínterim, fui anjo também. Minha alegria é contribuir para o crescimento daqueles que estão perto de mim. Já, a minha fé é particular. Não frequento uma igreja, mas não deixo de fazer minhas orações. Com fé, tenho conquistado coisas que nem imaginava. Gratidão é a grande qualidade das pessoas e a falta de consideração a todos que nos ajudaram a crescer é um grande defeito. Então, sou grato a Deus, à minha família e a todos os meus ouvintes. Muito obrigado por tudo!